Cascais reintroduz veados ibéricos no Parque Natural

25-07-2024

A Câmara de Cascais vai reintroduzir no Parque Natural Sintra-Cascais onze veados-vermelhos ibéricos numa área de 240 hectares onde já se encontram, em regime livre, 17 cavalos sorraias, 30 burros mirandeses e 5 corços. 

A accão visa desenvolver a renaturalização da Quinta do Pisão, a proteção de raças autóctones e apoio na gestão dos matos com consequente redução do risco de incêndio.

Os 11 cervídeos, 10 fêmeas e 1 macho foram libertados nesta quinta-feira, 25 de julho, na Quinta do Pisão.

Além dos animais que se encontram na Quinta do Pisão, a Câmara de Cascais reintroduziu também uma manada de 9 garranos oriundos do Parque Nacional Peneda-Gerês e 8 vacas maronesas oriundas o Parque Natural do Alvão que se encontram num cercado de 60 hectares na zona da Peninha, também no Parque Natural Sintra-Cascais (PNSC).

A introdução dos veados faz parte de um plano alargado de reordenamento da paisagem que conta com várias medidas, a mais importante: a paisagem mosaico. Cascais está a construir esta gestão da área natural do concelho em conjunto com os proprietários locais e com co-financiamento do programa europeu LIFE que vai permitir investir no terreno cerca de 3 milhões de euros ao longo seis anos.

O veado-vermelho ibérico foi, a nível nacional, uma espécie bastante comum na Idade Média, mas no final do séc. XIX encontrava-se perto da extinção devido à pressão agropecuária, à perda do habitat e à caça excessiva. Foi recuperando nas últimas décadas como consequência de reintroduções e recolonização natural a partir de Espanha. Atualmente em território português existem algumas populações pouco expressivas de Norte a Sul do país que se distribuem de forma mais ou menos descontínua.

Na região de Cascais, esta espécie foi extinta no séc. XVI devido à caça e à fragmentação do habitat com a introdução da pastorícia em regime intensivo e agricultura.

Agora, 5 séculos depois, a região de Cascais volta a ter esta espécie de cervídeos que vai contribuir no processo de renaturalização do PNSC.

Estes animais, juntamente com os cavalos sorraias, garranos, burros mirandeses, vacas maronesas e corços, vão desenvolver a sua atividade de pastoreio natural, reativando processos ecológicos face ao seu papel de "modeladores" da paisagem, cada um com a sua especificidade face ao regime alimentar: se são pastadores, ramejadores ou alimentadores intermediários. Estas características levam a uma pressão sobre a vegetação em todos os seus andares basais, promovendo o aumento da complexidade e estrutura dos habitats, valorizam o ecossistema, ou seja, criam mais oportunidade para que outras espécies beneficiem desta situação pela abertura de clareiras, trilho de fauna, etc.

Há ainda benefícios indiretos provocados pela presença destes animais: o transporte de sementes, a distribuição nos solos de matéria orgânica (fezes) e, sobretudo, o seu importante papel na prevenção de incêndios através da alimentação e pisoteio.

A título de exemplo: as sementes vão na pelagem de um veado ou burro ou nas fezes de um cavalo e, desta forma, vão sendo gradualmente distribuídas pelo território. As fezes por sua vez atraem insetos que, por sua vez, atraem aves e consequentemente toda uma cadeia trófica.